domingo, 15 de abril de 2007

O Sorriso na era dos "mass media" por Tom Zé (1968)


No Lp TOM
de 1968
debocha-pensamentos sobre-no mass-sorriso


Palavras da Contracapa
(Por Tom Zé)

Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.
0
sorriso deve ser muito velho, apenas ganhou novas atribuições.
Hoje, industrializado, procurado, fotografado, caro (às vezes), o sorriso vende. Vende creme dental, passagens, analgésicos, fraldas, etc. E como a realidade sempre se confundiu com os gestos, a televisão prova diariamente, que ninguém mais pode ser infeliz.
Entretanto, quando os sorrisos descuidam, os noticiários mostram muita miséria.
Enfim, somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.(As vezes por outras coisas também).
É
que o cordeiro, de Deus convive com os pecados do mundo. E até ganhou uma condecoração.
Resta o catecismo, e nós todos perdidos.
Os
inocentes ainda não descobriram que se conseguiu apaziguar Cristo com os previlégios. (Naturalmente Cristo não foi consultado).
Adormecemos
em berço esplêndido e acordamos cremedentalizados, tergalizados, yêyêlizados, sambatizados e miss-ificados pela nossa própria máquina deteriorada de pensar.
"-Você é
compositor de música "jovem" ou de música "Brasileira"?"
A
alternativa é falsa para quem não aceita a juventude contraposta à brasilidade.. (Não interessa a conotação que emprestam à primeira palavra).
Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras.
Pois é que quando eu abri os olhos e vi, tive muito medo: pensei que todos iriam corar de vergonha, numa danação dilacerante.
Qual nada. A hipocrisiacom z?) havia atingido a indiferença divina da anestesia...
E assistindo a
tudo da sacada dos palacetes, o espelho mentiroso de mil olhos de múmias embalsamadas, que procurava retratar-me como um delinqüente.
Aqui, nesta sobremesa de preto pastel recheado com versos musicados e venenosos, eu lhes devolvo a imagem.
Providenciem
escudos, bandeiras, tranqüilizantes, anti-ácidos, antifiséticos e reguladores intestinais. Amem.

TOM .

P.S.

Nobili, Bernardo, Corisco, João Araújo, Shapiro, Satoru, Gauss, Os Versáteis, Os Brazões, Guilherme Araújo, O Quartetão, Sandino e Cozzela, (todos de avental) fizeram este pastel comigo.

A sociedade vai ter uma dor de barriga moral
O
mesmo




3 comentários:

Delmo Arguelhes disse...

é isso aí, Sandro! tá muito legal o seu blog. Contudo, vc escreveu no início : "Comunicação: limiar dos limites e alcanses do humano." Sem querer ser chato, mas alcance não é com "S". No mais, valeu pelo blog.

Delmo

Delmo Arguelhes disse...

é isso aí, Sandro! tá muito legal o seu blog. Contudo, vc escreveu no início : "Comunicação: limiar dos limites e alcanses do humano." Sem querer ser chato, mas alcance não é com "S". No mais, valeu pelo blog.

Delmo

Comunhão do cão? disse...

Ih! Vou corrigir. Obrigado Delmo! Conto com os amigos e os leitores em geral para essas e outras observações. Acho que eu tenho mais limites na lida com a linguagem verbal do que alcances! Mas que posso fazer se a expressão visual não mata minha fome expressiva? Resposta: ir aprendendo. Qualquer outra coisa, manda pra cá. E aquele texto seu e do Zeca com base na Teoria Crítica? Manda pra cá também!

Um excelente mote para reflexões acerca dos temas comunicação e comunhão está na canção Sunshine de Arnaldo Baptista, transcrita, logo abaixo, em uma das postagens que figuram neste blog.

Se aproveitam

Se aproveitam
Gravura de Goya onde figuram os famosos saques feitos, pelos vencedores, após as batalhas.