quarta-feira, 18 de abril de 2007

A base social da "flânerie" é o jornalismo

A base social da flânerie é o jornalismo. É como flâneur que o literato se dirige ao mercado para se vender. No entanto, não se esgota com isso, de forma alguma, o aspecto social da flânerie. ‘Sabemos − diz Marx − que o valor de cada mercadoria é o definido através do quantum de trabalho materializado no seu valor de uso através do tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção.” (Marx, Das Kapital, ed. Korsch, Berlim, 1932, p. 188). O jornalista se comporta como flâneur, como se também soubesse disso. O tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de sua força específica de trabalho é, de fato, relativamente elevado. No que ele se empenha em fazer com que suas horas de ociosidade no bulevar apareçam como uma sua parcela, ele o multiplica, multiplicando assim o valor de seu próprio trabalho. Aos seus olhos e também, muitas vezes, aos de seus patrões, esse valor adquire algo de fantástico. Contudo, isso não aconteceria se ele não estivesse na situação privilegiada de tornar o tempo de trabalho necessário à produção de seu valor de uso acessível à avaliação pública e geral, na medida em que o despende e, por assim dizer, o exibe, no bulevar. A imprensa gera uma torrente de informações, cujo efeito estimulante é tanto mais forte quanto mais desprovidas estejam de qualquer aproveitamento. (Apenas a ubiqüidade do leitor tornaria possível aproveitá-las; e assim se produz também a sua ilusão.) A relação real dessas informações com a existência social está determinada pela dependência dessa atividade informativa face aos interesses pela dependência dessa atividade informativa face aos interessados da Bolsa e por sua repercussão sobre eles − Com o desdobramento da atividade informativa, o trabalho espiritual se assenta parasitariamente sobre todo trabalho material, assim como o capital cada vez mais submete todo trabalho material.” (BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: Obras escolhidas III – Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 255).

Um excelente mote para reflexões acerca dos temas comunicação e comunhão está na canção Sunshine de Arnaldo Baptista, transcrita, logo abaixo, em uma das postagens que figuram neste blog.

Se aproveitam

Se aproveitam
Gravura de Goya onde figuram os famosos saques feitos, pelos vencedores, após as batalhas.